PF prende 72 por tráfico de animais

OESP, Vida, p. A18 - 12/03/2009
PF prende 72 por tráfico de animais
Grupo é acusado de atuar no Brasil e no exterior comercializando 500 mil bichos e faturando R$ 20 mi por ano

Pedro Dantas

A Polícia Federal prendeu ontem 72 pessoas, em 9 Estados, acusadas de fazer parte de uma quadrilha internacional que contrabandeava animais silvestres no Brasil e para o exterior. De acordo com a PF, o grupo seria liderado no País por uma mulher de 68 anos e um tcheco, ambos presos no Rio. A Interpol emitiu o alerta de difusão vermelha a 187 países para a prisão de cinco estrangeiros - três tchecos, um suíço e um português - que integrariam o esquema. Só no Brasil, o grupo faturava cerca de R$ 20 milhões por ano, segundo a PF.

A ação, batizada de Operação Oxóssi (divindade africana protetora das matas e dos animais), mobilizou 450 agentes para prender caçadores, cinco policiais militares e vendedores de animais no Pará, Maranhão, Sergipe, Bahia, Minas, Espírito Santo, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio. O Ministério Público Federal obteve cerca de 100 pedidos de prisão preventiva e 140 mandados de busca e apreensão. "Este é o final de um trabalho iniciado em 2008 com provas robustas de uma organização criminosa que leva para o exterior espécies da nossa fauna, algumas em extinção. Calculamos que a quadrilha contrabandeou 500 mil animais em um ano", disse o delegado Alexandre Saraiva, da Delegacia do Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da PF.

Apenas no Parque Nacional da Bocaina, em Angra dos Reis, 16 caçadores foram presos. De acordo com Saraiva, alguns presos tiveram os bens sequestrados pela Justiça. No Rio, foram 48 prisões, entre as quais a do tcheco Tomas Novotny, que estava em seu apartamento, em um condomínio de luxo, na Barra da Tijuca. O delegado afirmou que ele negociava no exterior a comercialização dos animais vendidos para colecionadores. Alguns animais viajavam com a documentação falsa e outros eram escondidos em caixas, casacos e em tubos de PVC. O Rio foi apontado como a principal porta de saída. A outra era a Bahia. "Para dificultar o trabalho da polícia, o acusado só falava em tcheco com os comparsas no exterior. Um agente federal da República Tcheca nos auxiliou na tradução dos diálogos", disse o delegado. Novotny negou as acusações.

Os animais também eram contrabandeados de países africanos, Austrália e Indonésia, onde um alemão é apontado como o chefe. No Brasil, Novotny encomendaria os animais a Ana Rita de Oliveira, de 68 anos, que repassaria a caçadores nos Estados.

"Ela é a maior traficante de animais silvestres do Rio. Comprava e revendia. Tem vários antecedentes pelo mesmo crime", apontou o delegado. Ana foi presa com a filha, em Magé. A investigação da PF aponta que alguns brasileiros chegavam a negociar 100 animais por semana. No Rio, o principal destino dos animais eram as feiras de Duque de Caxias e Areia Branca, ambas na Baixada Fluminense, além de Honório Gurgel, subúrbio do Rio. Caxias foi apontada pela CPI do tráfico de animais como o principal destino do contrabando no País. O grupo contava com a proteção de cinco PMs, que também negociavam animais. Em Magé, a PF prendeu o cabo Marcelo Augusto Pinheiro, do 16o Batalhão de Polícia Militar de Olaria. No sítio dele, a polícia recuperou uma arara.

De madrugada, os policiais apreenderam centenas de papagaios e aves embaixo do eixo de uma caminhonete. Apertados em gaiolas e caixas, alguns pássaros estavam feridos. Os agentes também derrubaram um acampamento de caçadores na Reserva Biológica do Tinguá. Alguns animais tinham a pata ferida por um falso lacre do Ibama. Havia araras, tucanos e pixanxãos.


Alguns presos passaram 8 vezes pela delegacia

Pedro Dantas e Jamil Chade

O delegado de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da PF, Alexandre Saraiva, disse que a legislação contra crime ambiental "é uma piada". "Com essa legislação é impossível. O preso assina o Termo Circunstanciado de Ocorrência e vai embora. Temos presos na operação que passaram oito vezes na delegacia." Na Operação Oxóssi, como os acusados comercializavam grande quantidade de animais, o Ministério Público Federal pediu as prisões baseado no Código Penal, não na Lei de Crimes Ambientais. "A Justiça Federal acolheu os pedidos de prisão preventiva por receptação qualificada e formação de quadrilha. Os que enviaram animais ao exterior também responderão por contrabando e, eventualmente, maus-tratos", explicou. A pena máxima para formação de quadrilha e receptação é de 11 anos.

Segundo autoridades suíças, a rede identificada pelo Brasil pode ser o maior esquema de comércio ilegal de animais já desmantelado. Esse tipo de negócio movimenta até US$ 20 bilhões/ano.

OESP, 12/03/2009, Vida, p. A18
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