FAZENDEIROS IMPEDEM AMPLIAÇÃO DE ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL NA BAHIA
Decreto que preserva região que une cerrado à caatinga está parado no PlanaltoBRASÍLIA.A ação de donos de grandes fazendas na divisa da Bahia com Minas Gerais está impedindo a ampliação de um parque nacional criado em 1989 para a preservar uma região que une o cerrado à caatinga. Preocupados em não perder terras tidas como improdutivas, fazendeiros da região mobilizam-se para barrar o aumento da área de proteção ambiental do parque Grande Sertão Veredas.O projeto de ampliação da área está pronto: o parque deverá passar dos atuais 84 mil hectares para 230 mil hectares, a maior parte dentro da Bahia. Na nova área que o governo pretende anexar ao parque já foram catalogadas 480 novas espécies da flora e descobertas cinco novas espécies animais. Ali vivem também diversos animais ameaçados de extinção, como a onça-pintada, a jaguatirica e o pato-mergulhão, uma das espécies mais ameaçadas do país, com apenas 250 animais vivos hoje.Um ecossistema riquíssimo, importante para o paísO território em que o parque deveria ser criado dentro da Bahia na região dos municípios de Coco e Formoso é formado basicamente por latifúndios improdutivos. Por isso, o Ministério do Meio Ambiente avaliou que não haveria grandes dificuldades para ampliar a área de preservação permanente. É um ecossistema riquíssimo e dos mais importantes para o país, altamente preservado diz o secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, João Paulo Capobianco.Mas a ampliação do parque acabou ganhando contornos políticos. Fazendeiros da área procuraram o governador da Bahia, Paulo Souto, pedindo que interviesse para evitar a aprovação. Ao apresentar o caso ao Palácio do Planalto, o governo da Bahia argumentou que a região teria potencial para o agronegócio e seria importante para o estado, apesar de até hoje nada ter sido desenvolvido ali.Com o decreto pronto para ser assinado na Conferência Nacional do Meio Ambiente, em dezembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu reavaliar a questão. Disse na conferência que acredita na necessidade de mais discussão sobre o projeto. Houve muita discussão. Nas audiências públicas em todos os municípios da região, todos puderam se manifestar. Há estudos sendo feitos há 14 anos diz Cesar do Espírito Santo, coordenador da Fundação Pró-natureza (Funatura), organização não governamental que trabalha na região há vários anos.A hipótese de a vegetação natural dar lugar a grandes plantações assusta também a população da região. Na área do parque estão as nascentes dos rios Formoso, Carinhanha e Itaguari, que abastecem vários municípios da região.
A demora na demarcação põe as nascentes em risco diz o fazendeiro Teodoro Machado, defensor da ampliação da reserva ambiental cuja propriedade fica no corredor ecológico do parque.
ESTRADAS ABERTAS NA ÁREA DO PARQUE
Para evitar ampliação, fazendeiros recorrem até a desmatamentoBRASÍLIA. Desde que se iniciaram as discussões para ampliação do parque, fazendeiros da região começaram a se movimentar para evitar a decisão final do governo. Áreas ainda nas mãos de ruralistas, apesar de já estarem sob proteção do Ibama, começaram a ser desmatadas e estradas foram abertas. Até mesmo a promessa de uma doação para trabalhadores sem-terra surgiu, como forma de cooptar agricultores para evitar a demarcação do parque. Um fazendeiro da região, dono de 20 mil hectares no meio do que será o parque, disse à presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Formoso, Raimunda Muniz, que doaria três mil hectares à Superintendência do Incra na Bahia para fazer um assentamento. Ele nos prometeu que assim que a área fosse liberada seria feito o assentamento e nós seríamos os responsáveis por escolher as famílias conta Raimunda. Marcelino Galo, superintendente do Incra, afirma que não houve contato de fazendeiros da região ou oferta de terrenos: Mas não aceitaríamos sem antes ver se há impedimentos legais ou ambientais. Desde que soube da criação do parque, esse mesmo fazendeiro começou a desmatar e abrir estradas. Ele pretende criar um fato consumado para evitar a criação do parque. E quanto mais demorar, maior será o estrago diz Cesar Espírito Santo, da Funatura. (L.P.)
O Globo, 01/02/2004, p. 14
UC:Parque
Unidades de Conservação relacionadas
- UC Grande Sertão Veredas
As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.