Brasília aumenta área protegida

CB, Cidades, p.18 - 31/05/2004
Brasília aumenta área protegida
Terras acidentadas com grutas, belas cachoeiras e vegetação de mata seca que fazem parte da APA Cafuringa, serão incorporadas ao Parque Nacional. Invasões ameaçam unidade de conservação
O Parque Nacional de Brasília vai aumentar sua área em quase 50%. Os 30 mil hectares de cerrado nativo transformados em unidade de conservação pelo Decreto no 241, de 1961, ganharão mais 14 mil hectares. A ampliação está sendo definida em uma parceria do Ibama, Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Terracap e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A nova extensão do parque será oficializada por meio de decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas próximas semanas.
A maior parte da área a ser incorporada é das fazendas Palmas e Rodeador, que estavam sendo disputadas na Justiça pela União e particulares. No final do ano passado, o governo federal conseguiu a posse das terras que estão sob tutela do Incra e serão cedidas ao parque. O restante virá da Terracap.
As negociações para ampliar o parque nacional começaram nas discussões para liberar a licença ambiental da Cidade Digital, empreendimento do Governo do Distrito Federal. O projeto, que prevê a instalação de empresas de informática, ocuparia 132 hectares às margens da Epia. A área é vizinha ao parque e, para ser ocupada, seria preciso autorização da gerência executiva do Ibama-DF. Preocupados com o impacto que a instalação de duas mil empresas causaria na unidade de conservação, os técnicos do Ibama resistiam ao projeto.
A solução foi a Caesb elaborar um plano de saneamento e abastecimento de água específico para a região, que não irá sobrecarregar as áreas vizinhas. Parte da equipe que discutiu a viabilidade do setor de informática resgatou o projeto de ampliação previsto para o Parque Nacional desde a sua criação, em novembro de 1961. E conseguiu com a Terracap e o Incra que os 14 mil hectares situados na Área de Proteção Ambiental (APA) Cafuringa, próximo a Brazlândia, fossem anexados ao parque.
Conquistas
Para efetivar a ampliação, falta apenas a aprovação oficial do GDF e do Ibama nacional. ‘‘A remodelagem do parque é uma conquista ambiental. As áreas agregadas são de grutas e cachoeiras que, no futuro, poderão ser abertas à visitação’’, afirma o gerente executivo do Ibama-DF, Francisco Palhares. Segundo ele, 80% delas estão em perfeito estado de conservação.
O Correio Braziliense teve acesso à nova área. O relevo é acidentado e a vegetação, de mata seca, um tipo de cerrado praticamente extinto no Brasil, com árvores frondosas e raras e fauna diversificada. De acordo com a analista ambiental Christiane Horowitza a ampliação trará um ganho significativo à biodiversidade do Parque Nacional: ‘‘A chegada de indivíduos diferentes das espécies que vivem na área evitaria a degeneração genética dos animais e também da flora, obrigados a se reproduzir dentro de um mesmo grupo’’.
O Parque Nacional é uma das poucas regiões do Distrito Federal a conservar o cerrado nativo, sem modificações. De acordo com levantamento da Unesco, de 2003, resta pouco mais de 27% do cerrado nativo no DF. ‘‘O parque contribui com a sustentabilidade da cidade, porque ameniza o impacto da urbanização e o clima, além de favorecer o contato dos brasilienses com a natureza’’, explica o chefe do Parque Nacional, Elmo Monteiro.
A área conservada também favorece a qualidade da água consumida pelo brasiliense, considerada de classe especial pela Caesb. O parque é responsável por 30% do abastecimento do DF, com o sistema Santa Maria-Torto. A unidade de conservação é referência em pesquisas científicas relacionadas ao bioma cerrado, justamente por conter espécies de fauna e flora nativos.
Invasões
Uma ilha verde cercada de problemas. Essa é a definição do Parque Nacional de Brasília, dada pelo chefe da unidade de conservação, Elmo Monteiro. Em sua descrição, o entorno do parque está ocupado por invasões de terras públicas. Por lei, as áreas que circundam a região são consideradas de amortecimento ambiental. Por isso, deveriam ter o uso disciplinado, o que não acontece na prática.
De um lado do parque, estão a invasão da Estrutural e o Lixão. Do outro, o Núcleo Rural Lago Oeste, que começa a ser parcelado. ‘‘A pergunta é: como será o futuro do parque? O desafio é harmonizar a convivência da comunidade com a unidade de conservação’’, preocupa-se Monteiro. A área que será anexada também sofre ação de invasores. Em visita à região da Cafuringa, fiscais do Ibama flagraram ocupações irregulares na APA.
Água Mineral
As piscinas da Água Mineral representam 1% do Parque Nacional de Brasília, mas são a parte mais conhecida para o brasiliense, porque oferecem lazer. Quatorze mil pessoas visitam anualmente as duas piscinas do local. Há também duas trilhas que podem ser utilizadas para caminhadas, dentro do parque, em contato com a mata. A trilha mais longa, chamada Cristal Água, tem ponto para meditação.

Para saber mais
— O parque tem 30 mil hectares de extensão. Com a nova poligonal, serão mais 14 mil hectares
—30% do abastecimento de água do DF saem da lagoa de Santa Maria, no parque
O parque abriga um dos poucos sensores para captar abalos sísmicos em funcionamento no mundo
—Lobo-guará, onça parda e tamanduá bandeira — as três espécies de animais de grande porte, nativas do cerrado, ameaçadas de extinção — podem ser encontradas na área do parque
—Todos os anos, 14 mil estudantes e 750 professores das redes pública e privada são treinados em educação ambiental pela equipe do parque
—A brigada de combate a incêndio do Parque Nacional é considerada referência no país — o último grande incêndio na área aconteceu em 1998.



CB, 31/05/2004, p. 18
UC:Geral

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